Desde setembro, moradores da Colônia de Pescadores Z-3 vivem a angústia de terem suas casas invadidas pelas águas da Lagoa dos Patos. Bastou uma chuva forte, até mesmo em outras regiões do Estado, para que o temor voltasse a assombrar. Ontem, famílias já estavam retirando móveis e utensílios para ir para casa de parentes na comunidade. Isto porque com a Laguna cheia e o vento empurrando a água para dentro da Colônia, residências, principalmente do Cedrinho, foram atingidas. Três famílias estão desabrigadas.
A região enche por causa do canal que serve para desembocar água na Lagoa, mas por causa do volume da água e da direção do vento, transborda. As consequências desse clima são sentidas também na ponte que liga a Colônia aos balneários do Laranjal. Com o avanço da água, a travessia está só em uma via - a de saída - e a Prefeitura espera o tempo melhorar para fazer os espelhos da cabeceira de entrada. A Defesa Civil de Pelotas diz que está monitorando o local desde domingo.
A dona de casa Vanessa Rodrigues Farias, 42, saiu de casa para comprar uma botina, pois a rua está tomada de água. "É a segunda vez desde setembro. A primeira eu tive de sair de casa, pois cuido da minha mãe que é acamada. Agora não sei como vamos fazer. São dias de incertezas." O pescador Elinton da Silveira, 26, conta que a água vai e volta há mais de um mês. "Mais ali adiante a água fica pelos joelhos", afirmou. A autônoma Jéssica Vieira Rodrigues, 32, lamenta a situação, pois já perdeu todos os móveis de dentro de casa na primeira vez. "Acordei pela manhã e minha casa estava de molho. A gente não consegue ter nada direito. Tudo molha e estraga".
Ainda nos resquícios de setembro, a pescadora Lidiane Fernandes, 40, conta que até hoje não retiraram os entulhos e que está tudo amontoado na frente das casas. "Desde que o Exército saiu da Colônia, ficamos abandonados. Agora, se tiver que levantar acampamento, não tem nada para carregar. Só eu", disparou. Para quem olha o cenário ao longe tem a sensação que os moradores já se acostumaram com a rotina, pois muitos arriscam a caminhar dentro d'água, sem saber onde está pisando. Quem ficou desencorajado foi o porco do Cedrinho, já conhecido da comunidade. Ele preferiu ficar em terra firme, mesmo com os chamados do dono.
Ajuda
De acordo com o coordenador Municipal da Defesa Civil, Fernando Bizarro, desde domingo a situação é acompanhada pelas equipes. "Ontem (segunda) saímos às onze e meia da noite e deixamos o pessoal da Igreja Quadrangular de aviso. Mas os moradores não quiseram sair, mesmo pedindo para que não deixasse a situação se agravar." Na terça à tarde, representantes da Prefeitura de Pelotas se reuniram com a comunidade para planejar soluções de acolhimento aos moradores afetados. Ficou definido que o Salão Paroquial João Paulo II será o abrigo dos desalojados. Até o final da tarde, três famílias haviam solicitado ajuda para sair de casa, porém o número de desalojados pode aumentar, dependendo da velocidade e direção do vento nos próximos dias.
A Defesa Civil será responsável pelo transporte e resgate dos moradores, enquanto a Secretaria de Assistência Social (SAS) ficará encarregada de garantir alimentação e atender as demais necessidades essenciais dos desalojados. Apenas as famílias resgatadas terão acesso ao salão, visando à organização do espaço e controle da quantidade de pessoas. No encontro, também, foram discutidas algumas regras de convivência para manter a estabilidade no abrigo.
O Salão Paroquial tem estrutura para receber mais de 120 pessoas. Porém, segundo o secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, o número de resgatados tende a ser menor que a lotação do local. "Essa situação é totalmente diferente do período de chuvas em setembro. Estamos melhor preparados para essa adversidade e a tendência é que, até o final de semana, a situação já tenha melhorado." afirma. A expectativa é que a lagoa volte a recuar até o fim da semana.
Os moradores da Colônia de Pescadores Z-3 poderão levar, no transporte da Defesa Civil, alguns de seus bens, sendo orientados a priorizar os de maior valor.
Rio Grande
Nas ilhas de Torotoma e dos Marinheiros, a água voltou a subir e a Defesa Civil do Município está monitorando o local. Até ontem à tarde, não haviam desabrigados nem desalojados. Devido às cheias, o prefeito Fábio Branco (MDB) declarou situação de emergência nas áreas do Município afetadas por inundação.
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